quinta-feira, 18 de julho de 2013

CLUBES DE TROCA: O QUE HÁ DE NOVO?

CLUBES DE TROCA: O QUE HÁ DE NOVO?

Heloisa Primavera, heloisa@alliance21.org 

1. O que é um clube de trocas

Muito brevemente, um clube de trocas é o produto da decisão de um grupo de pessoas de juntar as necessidades de consumir de umas, com capacidades de produzir de outras, que não poderiam
encontrar-se por falta de dinheiro. Ou seja, pessoas que tem algo para “oferecer” e pessoas que tem algo para “consumir” fazem a troca desses produtos e serviços, sem que a presença do dinheiro seja determinante. Para fazer o “papel” de dinheiro, cria-se um bônus que serve como “informação” sobre as operações mas são produzidas e controladas pelo próprio grupo, de modo que sempre existirá a quantidade necessária para as trocas possíveis: nem mais, nem menos... Os bônus devem ser usados permanentemente, não produzem juros, portanto não servem para ser “poupados”, dai o nome de “moeda social”. Também é importante que todos os participantes produzam e consumam, sendo por isso chamados de “prossumidores”. Mais do que “clubes de troca” , preferimos denominá-los “redes de trocas solidárias”, para enfatizar o caráter socialmente útil e transformador da iniciativa.

2. O que não é um clube de trocas

No sentido assinalado anteriormente, não são necessáriamente “clubes de troca” ou “redes de trocas solidárias” aquelas iniciativas que violam os princípios de igualdade de direitos e solidariedade nas condições de produção, comercialização e consumo de seus produtos e serviços. Por exemplo, os “bons negócios” que exploram o trabalho de terceiros não são “clubes de troca” da economia solidária... As iniciativas que não usam dinheiro mas também não geram qualidade de vida e distribuição da riqueza

não são “clubes de troca” da economia solidária...

3. O que é fácil fazer num clube de trocas

Sempre que houver disposição de produzir e consumir em condições de distribuição da riqueza e dos talentos de todos, será muito fácil organizar e manter um clube de trocas solidárias. Podem consultar materiais específicos (Cartilha de Alfabetização Econômica: http://www.redlases.org.ar) ou visitar iniciativas perto de suas localidades. Quando existe experiência de organização comunitária, o clube é uma prolongação da mesma; quando não existe, sua implementação é geradora desta...

4. O que é difícil fazer num clube de trocas

Como o homem é um animal de hábitos, é preciso mexer muito profundamente em nossos hábitos de consumo para que um clube de trocas cresça e tenha impacto no grupo e na comunidade. Nesse sentido, parece fácil, mas não o é tanto... Além de usar a moeda social em vez do dinheiro, para que o sistema cresça é preciso produzir e consumir de outra maneira: dentro da maneira própria da economia solidária, que distribui a riqueza a todos e respeita o meio ambiente, com critério de desenvolvimento local integral e sustentável.

5. Qual é a maior contribuição para a economia solidária

Se tivermos que definir muito sinteticamente qual foi a maior contribuição das redes e clubes de troca para a economia solidária, com certeza diríamos que foi alterar profundamente uma equação
econômica fundamental - a equação do Mercado. Graças a eles, o dinheiro desapareceu de seu lugar fundamental, para uma boa parte do mercado representado pelo consumo de bens e serviços da vida
quotidiana.
Se o Mercado requeria para sua realização que existisse, basicamente, matéria prima, conhecimento para transforma-la, produtores para executar os bens ou serviços, consumidores para compra-los e DINHEIRO para fechar o circuito, a experiência dos clubes de troca mostrou até que ponto o dinheiro pode ser substituído pela moeda social, uma simples ferramenta produzida pela comunidade, afim de permitir as trocas entre produtores e consumidores. Nesse sentido, a experiência mais significativa dos últimos anos é a das redes de troca da Argentina, que começaram com 23 pessoas em maio de 1995 e em abril de 2002 chegaram a uma cifra estimada em CINCO MILHÕES DE PESSOAS!

Ou seja, se na economia tradicional :
MERCADO = matéria prima + conhecimento + Produtor + Consumidor + Dinheiro (escasso;)
enquanto na economia solidaria:
MERCADO=matéria prima + conhecimento + Produtor + Consumidor + moeda social (suficiente)
A escassez de dinheiro pode, então, ser enfrentada com o compromisso e a organização da comunidade, com a resposta das redes e clubes de troca!

6. Qual é a maior contribuição para a vida de uma comunidade dada?

Se reconhecemos que, ao eliminar a presença do dinheiro como fator fundamental, as redes de troca permitem as pessoas melhorar significativamente seu bem viver e o dos demais, compreendemos
também as conclusões a que chegaram um dos grupos de trabalho do Programa de Alfabetização Econômica, que definiu assim seu processo de aprendizagem profundo, logo após festejar os três meses de funcionamento impecável de seu primeiro clube de trocas:

1. A pobreza não passa de um grande mal entendido!

Podemos produzir toda a moeda social necessária para o intercâmbio de tudo o que somos capazes
de produzir e consumir!

2. A solidariedade é mesmo o melhor negócio!

Só é possível jogar o jogo ganha-ganha na economia solidária! Se aprendemos a produzir cooperativamente (em vez de competitivamente), a consumir em forma ética e responsável e a usar a moeda social em vez do dinheiro tradicional.
3. A prosperidade é mais um ponto de partida que de chegada: é compreender que os recursos do planeta são de nós todos e responsabilizar-nos por criar formas legitimas de apropriação do planeta em beneficio dos mais necessitados, que vivem fora do sistema porque acreditam que riqueza e’ dinheiro!
Como sempre, depois dos primeiros caminhos percorridos, hoje sabemos que o desafio é FAZER! E deixar de ver para crer e começar a crer... para ver!